quem me conhece por cinco minutos já deve saber que sofro de dor na lombar, sempre do lado esquerdo. tenho certeza de que minhas amigas também não aguentam mais ouvir falar que não consegui dormir direito, estou a doses cavalares de dipirona e miosan ou fazendo alongamentos para aliviar as fisgadas. ter dor nas costas me ensinou que não dá pra só fingir que a dor não existe, como frequentemente faço com minhas dores de cabeça. minha fisioterapeuta me indicou terapia – mal sabia que já faço há bons seis anos. segundo ela, dores lombares são sinais de stress. muito que bem.
mas não vim aqui falar de dores nas costas, graças às deusas. de dores a gente já tá cheia. o efeito adverso que as dores nas costas me trouxeram é que é revolucionário, para dizer o mínimo: fazer ginástica sem roupas de ginástica. aqueles troços apertados, tecnologicamente pensados para abrasar o suor, te fazer correr mais ou melhorar a circulação. eles são um porre. devem é servir pra paquerar na academia.
eu odeio. e minha mãe faz questão de me dá-las em todo aniversário (porque, segundo ela, "não conhece meus gostos" — então, nada menos genérico do que um par de leggings rosa escarlate, um tênis com molas gigantes ou um casaco para corridas que parece um cone de trânsito).
na verdade, o mundo cínico do couldn't-care-less até adota tal traje para o dia a dia. e deu um nome para o estilo: athleisure. aberração absoluta, quem pode imaginar calças coladas e tops de ginástica para o tempo livre? para despretensiosamente sair com amigas, ir a um encontro casual ou qualquer outra socialização esquisita? a coisa é tão maluca que a ideia é basicamente: tanto não ligo, estou sempre gostosa e malhada, que uso shorts de ginástica para sair em todo canto sem que isso pareça ultrajante para mim mesma. jia tolentino falou um pouco sobre essa sandice em seu livro "trick mirror". é como estar sempre disponível para uma corridinha, andada de bicicleta, pole dance ou outro esporte monetizado e instagramável ao simples pisar para fora de casa.
vocês podem dizer que, de fato, existem roupas de ginásticas mais largas. sim, é o mínimo. mas elas não atingiram o mainstream da shein, track&field ou qualquer marca de esportes. ao menos não para efetivamente fazer esportes. talvez para se mostrar blasé, oversized ou na moda em qualquer outra situação sem contexto.
vocês também podem dizer que só roupas de ginástica aguentam o tranco de um aeróbico pesadão. de fato, não quero falar aqui que todo e qualquer exercício merece roupas não-de-ginástica. mas os exercícios findos, muito mais que lindos, esses merecerão (desculpa aí, drummond).
bom, ter dores nas costas me deu a ideia genial de me exercitar de camisetonas, pijamas ou qualquer tecido vagabundo com que durmo. é maravilhoso. acordar, fazer exercícios da fisio ou yoga para as costas com essas roupinhas inadequadas é um pequeno respiro transgressor em um mundo povoado por tênis de alto impacto e bermudas tão apertadas que te fazem suar o triplo do normal.
e, melhor de tudo: isso não é qualquer novidade para os co-doloridos de 75+ anos que fazem fisioterapia comigo. em minha última sessão, uma das senhoras estava vestida com uma camiseta de vidrilhos. tudo em seu traje gritava contra o ambiente de alongamentos, choquinhos analgésicos e bolas de pilates. ela claramente não ligava. nem ela nem 50% dos frequentadores assíduos de lá, que usam calças jeans, bermudas de alfaiataria e até sapatos sociais. outro dia, o marido de uma colega (casal que faz fisio junto permanece junto) estava de um jeans grosso, sapato social e camisa arregaçada para receber choques contra sua dor no braço.
viva a terceira idade radicalmente transgressora.
Voltei à edição #2 para soltar algo que está entalado em minha garganta: NAO EXISTE SENSACAO PIOR QUE A BLUSA DE ALGODAO GRUDANDO NO SUOR DAS SUAS COSTAS DURANTE O EXERCICIO. Se existe uma tecnologia que dá conforto térmico, mobilidade, pq criticar a coitada? VIVA O ATHLEISURE!
bacana demais!!!!